Mapeamento de sítios de arte rupestre

na Serra de São Francisco, Laje Dos Negros,
Campo Formoso, Bahia, Brasil

Cristiana de Cerqueira Silva-Santana, Arqueóloga, Professora Adjunta e Coordenadora do Laboratório de Arqueologia e Paleontologia da Universidade do Estado da Bahia, Campus VII (LAP/UNEB), BR 407, km 127, s/nº, Senhor do Bonfim, Bahia, CEP: 48.970-000, ccsilva@uneb.br

Gilmar D’Oliveira Silva, Especialista em Educação Ambiental/Patrimonial, Colaborador externo do LAP/UNEB, gilmargdos@gmail.com

Noelia Souza Vieira, Bióloga, Mestranda do Programa de Ciências da Saúde e Biológicas da UNIVASF, Colaboradora externa do LAP/UNEB, noehliavieira@gmail.com

Hélio Augusto de Santana, Especialista em Educação Ambiental/Patrimonial, Colaborador externo do LAP/UNEB, helioaugusto@hotmail.com

Daivisson Batista Santos. Arqueólogo, Colaborador externo do LAP/UNEB, daivisson@archaioslogos.com.br

Leila Maria Ribeiro Almeida, Arqueóloga da Universidade Federal da Bahia. Colaboradora externa do LAP/UNEB. E-mail: almeida.ba@hotmail.com

José Aloisio Cardoso, Espeleólogo. Colaborador externo do LAP/UNEB. E-mail: aloisiocardoso46@gmail.com

Suely Gleyde Amancio Martinelli, Professora Adjunta do Núcleo de Arqueologia da Universidade Federal de Sergipe, suelyamancio@hotmail.com


RESUMO

A serra de São Francisco localizada no município de Campo Formoso, Bahia, integra a região do vale do Rio Salitre e apresenta grande quantitativo de sítios de pinturas rupestres. O estudo ora apresentado se refere ao levantamento dessa serra, realizado entre os anos de 2013 a 2015 em continuidade aos levantamentos iniciados no ano de 2007, mais especificamente dentro dos domínios do Distrito de Laje dos Negros. O objetivo deste artigo consiste, assim, no registro e mapeamento dos sítios e na realização de uma breve caracterização. Os resultados obtidos nessa serra consistem até o momento no mapeamento de 36 sítios de pinturas rupestres.

Palavras-chave: Laje dos Negros, Mapeamento, Pinturas rupestres.

ABSTRACT

The hills of San Francisco in the municipality of Campo Formoso, Bahia, part of the valley region of the Rio Salitre and features lots of rock art sites. This study regards the withdrawal of that mountain, conducted between 2013-2015 to continue the surveys started in 2007, specifically in settlement Laje dos Negros. The purpose of this article is thus on record and mapping of sites and conducting a brief characterization. The results obtained in this mountain range consists so far in the mapping of 36 sites of rock paintings.

Keywords: Laje dos Negros, Mapping, Rock art.

 

1. INTRODUÇÃO

A área de estudo a que se refere este artigo pertence a uma porção do município de Campo Formoso, Bahia, geograficamente situada na subacia hidrográfica do rio Pacuí, que integra a bacia hidrográfica do rio Salitre, e que consiste em uma dentre as tantas bacias menores que compõem a bacia do Rio São Francisco.

Campo Formoso foi inicialmente pesquisado por Carlos Ott (1958) que na metade do século XX localiza o sítio de pinturas rupestres denominado Buraco d’água. Posteriormente, na década de 60, ao realizar pesquisas na região do médio São Francisco e Chapada Diamantina, Valentin Calderón localiza quatro sítios cerâmicos no município de Campo Formoso (Calderón, 1967). Esses sítios estão registrados no Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos do IPHAN como sendo lito-cerâmicos. Especialmente na bacia do Salitre, recorte geográfico dessa pesquisa, há o indicativo de 91 sítios arqueológicos no IPHAN, muitos desses associados a sítios de arte rupestre, distribuídos nos nove municípios que compõem a bacia.

Além do registro desses sítios, muitos outros se encontram descritos para o município de Campo Formoso, mas também para os municípios de Jacobina, Umburanas e Ourolândia, todos limítrofes a Campo Formoso e com parte de territórios implantados na bacia do Salitre (Silva-Santana et al, 2012; Silva e Silva-Santana, 2014; Freitas, Silva, Silva-Santana, 2015). Cabe aqui frisar que esses estudos estão sendo realizados no âmbito do Projeto ‘Arqueologia do Vale do Salitre’, desenvolvido pelo Laboratório de Arqueologia e Paleontologia da Universidade do Estado da Bahia desde o ano de 2007 e atualmente com a cooperação científica da Universidade Federal de Sergipe e demais colaboradores externos.

Especificamente acerca desses sítios, no recorte regional de estudo a que este artigo discorre, destacamos um estudo anterior cuja publicação resultou da localização e caracterização de 31 sítios de pinturas rupestres no distrito de Laje dos Negros, nomeadamente nos Riachos Campestre, Landi, da Mata Roçada, do Meio e outro não denominado (Silva e Silva-Santana, 2014).

Mas as pesquisas na região de Laje dos Negros remontam há décadas atrás, pois, a área foi objeto de estudos espeleológicos e arqueológicos na década de 1980. Os estudos espeleológicos foram coordenados por Aloísio Cardoso, na época integrante do Centro de Recursos Ambientais (CRA), do governo da Bahia e as pesquisas arqueológicas coordenadas por Leila Almeida, arqueóloga do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade Federal da Bahia (MAE-UFBA), que fazem o registro de sítios de pinturas rupestres na região de Laje dos Negros e na Serra de São Francisco.

Nesse período da década de 1980, Aloísio Cardoso pesquisava a região norte da cordilheira do Espinhaço, incluindo a Serra do São Francisco (objeto desse nosso artigo), a Serra do Mulato e Cruz no sul de Juazeiro. O Conjunto das serras pesquisadas chegou a 184.000 ha, abrangendo parte dos municípios de Juazeiro, Campo Formoso, Umburanas e Sento Sé. Em muitas dessas pesquisas Leila Almeida o acompanhou e realizou o levantamento de sítios arqueológicos.

No início de 2001 começamos a pesquisar parte dessa região, mas, esses estudos integravam outro projeto referente ao levantamento de sítios arqueológicos e paleontológicos da microrregião de Senhor do Bonfim, finalizado no ano de 2008. No ano de 2007 ao se constatar a riqueza de sítios na região de Laje dos Negros, mas, também em outras áreas municipais inseridas na bacia do rio Salitre, resolvemos iniciar pesquisas mais direcionadas ao vale do Salitre. Assim, a pesquisa ora descrita enfoca justamente um pequeno trecho desse vale.

O estudo atual e aqui descrito teve por objetivo realizar o mapeamento da Serra de São Francisco, pequeno trecho do vale do Salitre, e fazer uma breve caracterização dos sítios de arte rupestre, ali existentes.

A metodologia da pesquisa constou de estudos iniciais em imagens de satélites para a seleção das áreas contendo paredões aparentes e grotas. Nesses paredões e grotas se realizou pesquisas sistemáticas. Também realizamos coleta de informações orais com moradores das comunidades próximas da Serra de São Francisco, a saber: Laje dos Negros, Lagoa de São Francisco, Borges, Queixo D’anta e Bicas. Para a caracterização das pinturas utilizamos Aguiar (1986), que caracteriza ‘grafismos puros’, como sendo figuras não identificáveis a partir da simples análise visual e ‘grafismos de composição’ como aquelas identificáveis, podendo ser biomorfo, estático ou dinâmico.


2. LOCALIZAÇÃO E BREVE CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA

Campo Formoso se encontra na microrregião de Senhor do Bonfim, distante 402 km da capital do estado, Salvador. Apresenta altitude de 556 m e área de 7.258,676 km_, inserido na coordenada central 24L 355400 E 8838171 S (SEI, 2015).

A serra do São Francisco está localizada acerca de 100 km NW, em linha reta da sede de Campo Formoso, próxima dos Povoados de Borges, Bicas, Lagoa e Queixo D’anta.

De acordo com o INEMA (2016) a bacia do Salitre possui área de 14.136 km_ e extensão de 333,24 km, faz parte da bacia do rio São Francisco e encontra-se localizada na porção Centro-norte do Estado da Bahia entre as coordenadas 24L 230000 E 8954000 S; 24L 230000 E 8732000 S; 24L 350000 E 8954000 S; 24L 350000 E 8732000 S. Os principais rios que compõem essa bacia são o Vereda da Caatinga do Moura, o Riacho Escurial e o Pacuí. Esse último ao qual se relaciona a presente pesquisa. A bacia envolve nove municípios, sendo que apenas o município de Várzea Nova o integra totalmente, outros quatro municípios: Ourolândia, Campo Formoso, Mirangaba e Umburanas, apresentam mais de 60% do território nesta bacia. Jacobina, Juazeiro, Miguel Calmon e Morro do Chapéu têm entre 40 e 60% do território na bacia.

O clima da área é tropical semiárido, onde predomina a vegetação de Caatinga Arbórea Densa, sem palmeiras, entremeada por pastagens e áreas com agricultura de subsistência.

3. SÍTIOS MAPEADOS NA SERRA DE SÃO FRANCISCO

Ao total se localizaram 36 sítios de arte rupestre na serra de São Francisco, todos em grotas e inseridos em suportes de rochas quartzíticas (Quadro 1 e Figura 1).

Quadro 1. Sítios localizados na Serra de São Francisco, Campo Formoso, Bahia.

 

Figura 1. Mapa de localização dos sítios da serra de São Francisco, Campo Formoso/BA. Elaborado por Gilmar Silva.

 


3.1.1. Sítio arqueológico Cacimba I

Pequeno sítio, com grafismos puros, de coloração vermelha, distribuídos em apenas um painel. Sobre o painel há escorrimento de sais, recobrimento por pátina, fissuras e fraturas na rocha, ocorrência de colônias de liquens, galerias de térmitas, nidificações de vespas e raízes com desenvolvimento entre fissuras e fraturas da rocha.

3.1.2. Sítio arqueológico Cacimba II

O sítio distante 175 m do Cacimba I. Os grafismos estão distribuídos em uma área aproximada de 10 m, formando pequenas concentrações de pinturas na cor vermelha, alguns possuem diferentes tonalidades. São em maioria grafismos puros, mas ocorre também um motivo zoomorfo: uma ave. Há no sítio ampla deposição de pátina, esmaecimento de alguns grafismos, colônias de liquens e nidificação de vespas.

3.1.3. Sítio arqueológico Cacimba III

O sítio Cacimba III dista 1.000 m do sítio Cacimba II. A área está situada em um enorme abrigo onde foram observadas diversas pinturas dispostas desde a base da parede até o teto. Os grafismos estão distribuídos por todo o abrigo, em área aproximada de 6 m de extensão. As pinturas são em sua maioria de cor vermelha e apenas uma ocorrência em coloração amarela, cujas representações formam grafismos puros (Figura 2). As pinturas encontram-se esmaecidas, com pátina, nidificações de vespas e galerias de cupim. Embora o local seja de difícil acesso, encontra-se pichado.

Figura 2. Vista dos grafismos puros do sítio Cacimba III. Fotos: Gilmar Silva.

 

3.2. Sítio Arqueológico Formosa

Os grafismos estão distribuídos por uma área de aproximadamente 15 m, compondo conjuntos bastantes próximos uns dos outros. Observaram-se grafismos puros nas cores vermelha, amarela e preta; ocorre um círculo raiado na cor vermelha (Figura 3). Os fatores intempéricos prejudiciais às pinturas são escorrimento de pátina, fissuras e fraturas na rocha, os biológicos são colônias de liquens e nidificações de vespas.

Figura 3. Grafismos verificados no sítio Formosa. Fotos: Gilmar Silva.



3.3.1. Sitio arqueológico Maninho I

Localizado em pequeno abrigo, próximo a um riacho intermitente. Os grafismos são de coloração vermelha, distribuídos em uma área aproximada de 8 m. Possui tanto grafismos puros quanto grafismos de composição, especificamente um zoomorfo (Figura 4). Há no sítio pinturas esmaecidas, presença de pátina, diversas fissuras e fraturas na rocha, bem como colônias de liquens. Atualmente a área é utilizada para atividades religiosas afrodescendentes.

Figura 4. Grafismos do sítio Maninho I. Fotos: Gilmar Silva.



3.3.2. Sitio arqueológico Maninho II

Sítio situado na margem esquerda de um riacho intermitente. Os grafismos são na cor vermelha e estão dispersos por toda extensão do suporte rochoso de 6 m. Predominam grafismos puros, mas há um zoomorfo. Há ação de fatores intempéricos: fissuras, fraturas na rocha e colônia de líquens.

3.3.3. Sitio arqueológico Maninho III

Sítio em pequeno abrigo situado à margem de riacho intermitente, distante 20 m do Maninho II. O painel com 1 m apresenta grafismos puros, na cor vermelha (Figura 5). Semelhante aos sítios da área, o sítio Maninho III está com parte de suas pinturas apresentando diferentes graus de esmaecimento. Há pátina, fissuras na rocha e líquens.

Figura 5. Vista de parte do sítio Maninho III. Fotos: Gilmar Silva.

 

3.3.4. Sitio arqueológico Maninho IV

Sítio situado em margem de riacho intermitente. Os grafismos são puros e estão distribuídos em painel com comprimento aproximado de 4 m. As pinturas são todas na cor vermelha, estas se encontram em avançado estado de esmaecimento.

3.4.1. Sítio arqueológico Puçá I

Os grafismos estão distribuídos em um painel com aproximadamente 5 m de comprimento e 4 m de altura, situados em margem de riacho intermitente. São grafismos puros, de cor vermelha, em avançado estado de esmaecimento, apesar de estarem em local protegido de luminosidade. Os fatores intempéricos são fraturas, fissuras na rocha e pátina, além de pequenas colônias de líquens.

3.4.2. Sítio arqueológico Puçá II

O sítio está a 60 m do Puçá I, ambos estão em compartimento ambiental semelhante, tendo sombra durante todo o dia. As representações são na cor vermelha e amarela; os grafismos são puros, bastante esmaecidos e borrados. Os efeitos intempéricos são o escorrimento de pátina e a presença de líquens (Figura 6).

Figura 6. Área com grafismos rupestre esmaecidos do sítio Puçá II. Fotos: Gilmar Silva.


3.4.3. Sítio arqueológico Puçá III

Sítio com maior quantidade de grafismos da Grota do Puçá. Possui o maior painel da área pesquisada, com cerca de 6 m x 3 m, com diversos grafismos distribuídos, todos na cor vermelha, com pouca variação de tonalidade. Ocorrem grafismos puros, bem como carimbos de mãos. Há no sítio esmaecimento de grafismos, fratura da rocha, presença de pátina, crescimento de vegetais sobre partes do painel, nidificação de vespas e desenvolvimento de colônias de líquens (Figura 7).

Figura 7. Grafismos do sítio Puçá III. Fotos: Gilmar Silva.

 

3.4.4. Sítio arqueológico Puçá IV

Sítio com um painel contendo grafismos puros, todos na coloração vermelha (Figura 8). Há esmaecimento de figuras, fratura da rocha, recobrimento por pátina, crescimento de vegetais sobre partes do painel, nidificação de vespas e colônias de liquens.

Figura 8. Alguns dos grafismos do Sítio Puçá IV. Fotos: Gilmar Silva.



3.4.5. Sítio arqueológico Puçá V

Área com grafismos rupestres compostos por um pequeno painel de pinturas com representações geométricas e grafismos puros na cor vermelha (Figura 9). Quanto à conservação foram observadas presença de pátina, esmaecimento de figuras, galerias de cupins, nidificações de vespas.

Figura 9. Grafismos puros do sítio Puçá V. Fotos: Gilmar Silva.

3.4.6. Sítio arqueológico Puçá VI

Pequeno sítio com um painel composto por poucos grafismos puros e de cor vermelha. Sobre o estado de conservação observou-se esmaecimento dos grafismos, fraturas e fissuras na rocha, bem como presença de pátina.

3.4.7. Sítio arqueológico Puçá VII

Composto por um painel com extensão de 4 m. Os grafismos observados estão distribuídos em todo o painel. São grafismos puros, todos de coloração vermelha (Figura 10). O painel fica exposto à luz solar, há fraturas e fissuras na rocha, pátina e esmaecimento dos grafismos, bem como nidificação de vespas e colônias de líquens.

Figura 10. Sítio Puçá VII com grafismos vermelhos esmaecidos. Fotos: Gilmar Silva.

 

3.5. Sítio arqueológico Curralinho

Ocorre um painel com grafismos puros e um provável biomorfo, todos na cor vermelha (Figura 11). A coloração vermelha está bem conservada em algumas figuras, no entanto, observou-se forte ação de fatores físico-químicos que podem comprometer em longo prazo a visualização dessas pinturas.

Figura 11. Sítio Curralinho. Fotos: Gilmar Silva.

 

3.6.1. Sítio arqueológico Gangorra I

As pinturas verificadas são grafismos puros, na cor vermelha. Quanto ao estado de conservação foi observada a presença de pátina sobre ou próximo às pinturas, escorrimento escuro possivelmente originário da decomposição de vegetais, além de colônias de líquens, nidificações de vespas e brotamentos de bromeliáceas e cactáceas.

3.6.2. Sítio arqueológico Gangorra II

Sítio com três painéis que distam 2 m uns dos outros. As representações são vermelhas, formam grafismos puros não reconhecíveis, linhas e grafismos elaborados por pontos (Figura 12). As pinturas observadas nos três painéis apresentam diferentes estados de esmaecimento, além da deposição de pátina, escorrimento de água próximo às figurações, acarretando o crescimento de colônias de líquens.

Figura 12. Grafismos puros identificados no sítio Gangorra II. Fotos: Gilmar Silva.



3.6.3. Sítio arqueológico Gangorra III

Sítio de pintura contendo um pequeno painel com apenas um grafismo puro na cor vermelha, isolado no suporte rochoso, não havendo qualquer outra figura. A pintura encontra-se bastante esmaecida.


3.6.4. Sítio arqueológico Gangorra IV

Sítio com um painel de pinturas de coloração vermelha contém grafismos puros em avançado estado de esmaecimento. Observam-se fissuras no painel e deposição de pátina próxima e sobre as mesmas.

3.6.5. Sítio arqueológico Gangorra V

Sítio com três painéis, os grafismos são puros, todos de coloração vermelha (Figura 13). Quanto ao estado de conservação observam-se esmaecimento, recobrimento de pátina e fissuras na rocha, quanto aos agentes biológicos foi detectada apenas a presença de colônia de liquens.

Figura 13. Grafismos identificados no sítio Gangorra V. Fotos: Gilmar Silva.

 

3.7. Sítio arqueológico Juvenal

Sítio composto por um pequeno painel com área inferior a 1,0 m_ apresentando grafismos puros na cor vermelha. No que diz respeito à conservação, os grafismos estão em avançado estado de esmaecimento, sendo verificadas alterações na coloração da rocha, além da presença de colônia de liquens próximo aos grafismos (Figura 14).

Figura 14. Sítio Juvenal: grafismos esmaecidos indicados com o perímetro branco. Fotos: Gilmar Silva.

 

3.8.1. Sítio arqueológico Olho D’Água I

Sítio de pintura conhecido localmente como Toca dos Morcegos e identificado como uma pequena cavidade. No painel foram observados diversos grafismos puros e de composição na cor vermelha (Figura 15). Há representação de alguns zoomorfos, todos estáticos, dentre estes um quadrúpede mamaliforme de orelhas em riste, de ventre para cima, preso pelas quatro patas (Figura 15). As representações estão presentes apenas do lado de fora do abrigo, na zona de luminosidade. Quanto à conservação, esses apresentam manchas de escorrimento de sais, há ainda fissuras e fraturas na rocha. O fator mais agravante detectador nesse sítio foi à presença de escavações realizadas por garimpeiros, no interior da toca. Estes efetuaram a retirada de quase todo o piso e em meio ao sedimento retirado encontramos um artefato lítico em sílex lascado.

Figura 15. Grafismos identificados no sítio Olho D’água I, à direita: mamaliforme com ventre para cima. Fotos: Gilmar Silva.

 

3.8.2. Sítio arqueológico Olho D’água II

Sítio apresentando majoritariamente grafismos puros na cor vermelha, mas, ocorrendo um zoomorfo passeriforme. Sobre a conservação dos grafismos observa-se que estão parcialmente recobertos por camada de pátina, bem como recobrimento de sais, tendo sido ainda identificada diversas fraturas e fissuras no suporte rochoso. Além dos fatores físicos foram observadas também nidificações de vespas e galerias de cupins, essas sobre e próximas às pinturas.

3.8.3. Sítio arqueológico Olho D’água III

Sítio de pintura rupestre com três painéis, o sítio possui uma extensão aproximada de 30 m. Diante da analise realizada, nos três painéis de pintura verificaram-se as seguintes características: no painel 1 há predomínio de grafismos puros, com algumas ocorrências de grafismos de composição (zoomorfo ou antropomorfo); no painel 2 foi identificado maior concentração de grafismos de composição, quando comparado ao painel 1, mas mantendo o predomínio de grafismos puros; no painel três 3 identificou-se maior número de grafismos de composição, quando comparado aos outros dois painéis, tendo esse último a ocorrência de zoomorfos mamaliformes, antropomorfos e de passeriformes (Figura 16). Há sobreposição de figuras nesse sítio. Quanto ao estado de conservação dos painéis ocorre escorrimento de sais, fissuras e fraturas na rocha, nidificação de vespas e crescimento de bromeliáceas nas fissuras próximas às pinturas. O sítio está próximo a uma área utilizada para banho por moradores locais.

Figura 16. Sítio Olho d’água III com destaque para os grafismos puros e de zoomorfos: mamaliforme e passeriforme. Fotos: Gilmar Silva.

 

3.8.4. Sítio arqueológico Olho D’água IV

Os grafismos rupestres identificados no sítio Olho D’água IV estão contidos em apenas um painel, com extensão de 4,0 m e altura em 2,0 m. As representações, todas na cor vermelha foram classificadas como grafismos puros, ocorrendo círculos raiados que estão dispostos de forma bem expressiva (Figura 17). Observa-se nesse sítio a ocorrência de sobreposições. Quanto à conservação, as pinturas estão levemente recobertas por uma fina camada de pátina, há escorrimento de sais. Foi detectada uma área raspagem de um dos grafismos (Figura 17).

Figura 17. Sítio Olho D’água IV, temática geométrica. Fotos: Gilmar Silva.

 

3.9.1. Sítio Arqueológico Bicas I

Sítio localizado a menos de 10 m de um riacho sazonal. Possui grafismos puros nas cores vermelha e amarela, que se estendem a altura superior a 4 m. Os painéis que compõem este sítio apresentam áreas de esmaecimentos ocasionados pelo escorrimento de água e deposição de calcita sobre as mesmas (Figura 18).

Figura 18. Sítio Bicas I: figuras geométricas em vermelho. No interior do polígono podem-se observar a presença de figuras, algumas esmaecidas. Fotos: Gilmar Silva.

 

3.9.2. Sítio Arqueológico Bicas II

Sítio localizado a menos de 10 m de um riacho sazonal. O painel apresenta poucas pinturas espaçadas no paredão, compreendendo uma área aproximada de 10 m. Os grafismos são puros e se apresentam na cor vermelha estando levemente esmaecidas. Algumas pinturas se situam em áreas parcialmente protegidas, o que proporciona alguma preservação, contudo outras estão descamadas (Figura 19). Há em partes do sítio deposição de calcita por sobre as figuras.

Figura 19. Sítio Bicas II. À esquerda: grafismo descamado, à direita grafismos puro esmaecidos. Fotos: Gilmar Silva.

 

3.9.3. Sítio Arqueológico Bicas III

Sítio localizado a menos de 10 m de um riacho sazonal. Apresentando grafismos puros, incluindo uma figura geométrica elaborada, todas na cor vermelha. As pinturas alcançam altura superior a 5 m, situados em área de difícil acesso. Há escorrimento de calcita sobre as figurações, além de colônias de líquens. Durante o levantamento constatamos materiais líticos lascados em superfície.

3.9.4. Sítio Arqueológico Bicas IV

Sítio localizado a menos de 10 m de uma fonte de água. As pinturas são caracterizadas por grafismos puros, mas, ocorrem figuras zoomorfas estáticas, todas na cor vermelha (Figura 20). As figuras se distribuem no painel até uma altura aproximada de 6 m. Os grafismos se apresentam com leve esmaecimento e escorrimento de calcita.

Figura 20. Representações do Sítio Bicas IV; à esquerda representação de possível zoomorfo. Fotos: Gilmar Silva.

 

3.9.5. Sítio Arqueológico Bicas V

Sítio localizado a menos de 10 metros de um riacho sazonal. O sítio apresenta grafismos puros na cor vermelha, estes bastante esmaecidos e com severo escorrimento de sais por sobre o painel (Figura 21).

Figura 21. Sítio Bicas V. Grafismos esmaecidos. Fotos: Gilmar Silva.

 

3.9.6. Sítio Arqueológico Bicas VI

Sítio com dois painéis distando aproximadamente 50 m um do outro. As pinturas que compõem os dois painéis são grafismos puros na cor vermelha. Ambos os painéis apresentam escorrimento de calcita, além de outros efeitos intempéricos. O sítio não possui qualquer tipo de proteção natural contra a irradiação solar e se encontra imediatamente à margem de um riacho sazonal.

3.9.7. Sítio Arqueológico Bicas VII

Sítio com grafismos puros e uma representação circular raiada, todos na cor vermelha; algumas pinturas apresentam leve esmaecimento. Um único painel compõe este sítio que se mostra com deposição de calcita em alguns locais. O sítio apresenta uma área abrigada com possibilidades de escavação (Figura 22). Este sítio encontra-se a menos de 20 metros de um pequeno riacho sazonal.

Figura 22. Sitio Bicas VII com detalhes para a área abrigada e as pinturas geométricas. Fotos: Gilmar Silva.

 

3.10.1. Sítio Arqueológico Queixo D’anta I

Sítio a aproximadamente 50 m de uma fonte de água permanente. As pinturas são na cor vermelha, em sua maior parte compõem-se de grafismos puros, todavia ocorrem antropomorfos, carimbos e zoomorfos (Figura 23). Em alguns locais há esmaecimento de figuras, pois, as mesmas ficam vulneráveis às intempéries e à insolação. Neste sítio é verificada a ação deletéria humana por presença de pichação.

Figura 23. Sítio Queixo D’anta I. Grafismos puros e zoomorfos estáticos. Em D: pichação realizada próxima a algumas pinturas. Fotos: Gilmar Silva.

 

3.10.2. Sítio Arqueológico Queixo D’anta II

Sítio situado a menos de 20 m de uma fonte de água. Esse sítio apresenta pinturas a 4 m de altura e distribuídas em três painéis: painel 01 em paredão, painéis 02 e 03 em abrigo. Ocorrem grafismos puros e de composição caracterizados por alguns antropomorfos, esses, todos estáticos. Quanto à preservação, observa-se escorrimento de calcita por sobre as pinturas e presença de colônias de liquens; algumas figurações estão esmaecidas. Neste sítio também é verificada a existência de pichação semelhante à do sítio Queixo d’anta I (Figura 24).

Figura 24. Sítio Queixo d’anta II; acima: parte do painel 1; abaixo: parte do painel 2. Abaixo, à direita: pichação semelhante à do sítio Queixo D’anta I. Fotos: Gilmar Silva.


3.11. Sítio Arqueológico Delfina

Sítio localizado a 50 m de um riacho temporário. As pinturas, todas na cor vermelha, estão localizadas na parede e em alguns pontos do teto da área semiabrigada, em altura de 2 m da superfície. Os motivos são bem variados, desde grafismos puros a representações de composição como antropomorfos e zoomorfos, estáticos, além de carimbos de mãos. Há sobreposição de pinturas e áreas bastante borradas. Neste sítio ainda foram detectados efeitos provocados por intempéries, tais como: descamações e esmaecimento de pinturas (Figura 25).

Figura 25. Pinturas do sítio arqueológico Delfina. Fotos: Noélia Vieira.


4. CONSIDERAÇÕES

Os sítios levantados apresentam semelhanças quanto à recorrência de grafismos puros, estando a maior parte com elementos que remetem à Tradição Geométrica. Contudo, há variações na área, pois, ocorrem painéis com presença de grafismos puros associados a figurações biomorfas estáticas, carimbos de mão, dentre outros sinais indicando haver sítios com elementos que podem remeter à Tradição Agreste. Vale salientar que elementos dessas duas tradições têm sido reportados para sítios dessa região do Salitre, conforme Silva, Silva-Santana (2014) e Freitas, Silva, Silva-Santana (2015).

Observou-se ainda que a maior parte dos sítios está localizada em área de difícil acesso, o que de certa forma dificulta a ação depredatória humana, entretanto, ações das intempéries são constatadas nos sítios localizados na região do Queixo d’anta, pois, esses são os que apresentam maior facilidade de acesso.

Por fim, vale considerar que, o mapeamento arqueológico é o primeiro passo da pesquisa e um importante instrumento de gestão. Neste sentido, esse tipo de investigação na região deverá continuar em decorrência da riqueza arqueológica regional, mas, um mapeamento completo ainda demorará. As pesquisas de levantamento e mapeamento de sítios arqueológicos de arte rupestre na região do Vale do Salitre persistirão durante os próximos anos, a partir da continuidade e ampliação do Projeto Arqueológico Vale do Salitre.

 

 

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Silva-Santana, Cristiana de Cerqueira; D’Oliveira Silva, Gilmar; Souza Vieira, Noelia; Augusto de Santana, Hélio; Ribeiro Almeida, Leila Maria; Batista Santos, Daivisson; Aloisio Cardoso, José; Amancio Martinelli, Suely Gleyde. Mapeamento de sítios de arte rupestre na Serra de São Francisco, Laje Dos Negros, Campo Formoso, Bahia, Brasil.
En Rupestreweb, http://www.rupestreweb.info/mapeamentonaserra.html

 

2017

 


REFERÊNCIAS


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CALDERÓN, V. Notícia preliminar sobre as sequências arqueológicas do médio São Francisco e da Chapada Diamantina, Estado da Bahia. PRONAPA, Museu Paraense Emílio Goeldi. Publicações Avulsas, nº 6. Belém, p. 106 – 121. 1967.

FREITAS, L. B.; SILVA, G. D’O.; SILVA-SANTANA, C. de C. Grafismos rupestres em cavernas e paredões às margens do rio Salitre no município de Umburanas, Bahia, Brasil. Scientia Plena, v. 11, p. 1-12, 2015.

INEMA. CBH Salitre: caracterização da bacia. Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos, 2016. Disponível em: < http://www.inema.ba.gov.br/gestao-2/comites-de-bacias/comites/cbh-salitre/>

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